o mundo precisa de filosofia
Nem todo mundo pode ser piloto de avião, jogador do Flamengo ou apresentador de talk show na TV. Algumas profissões caracterizam-se pela monotonia; por exemplo, ascensorista. Como manter o bom humor passando um terço do dia (ou metade, quando se acumulam dois empregos diferentes) encerrado num elevador, em constante sobe e desce, sobe e desce? Mas seu Machado era um ascensorista diferente: distraía a si e aos passageiros contando piadas. Meia-idade, cabelos grisalhos, pele curtida pelo sol (era pescador nos fins de semana), sorriso infalível. A história se passa em plena ditadura militar e seu Machado sabia desfiar rosário de piadas do Costa e Silva, o general com fama de boçal que governava o país.
– Terceiro andar, quem vai? Quinto, ninguém? Todos pro primeiro?
A piada teria de ser curta para não ser interrompida no meio.
– O presidente viajou pra Escócia. Numa recepção, ofereceram uísque. “É estrangeiro?” Perguntou. “Não, é nacional”. “Então não quero, uísque nacional não bebo!”
– Primeiro andar, chegamos! Na saída, conto outra.
O prédio, o CPD de um banco, era baixo, seis andares, e seu Machado pilotava o elevador dos andares ímpares.
– O presidente e a esposa vinham de Cuba num jato… (Como de Cuba, perguntará o leitor mais atento, se na ditadura militar o Brasil não mantinha relações diplomáticas com esse país? Ora bolas, responderei, se querem lógica, procurem nos teoremas matemáticos ou nos programas de computador, e não nos sonhos ou piadas.) O comandante anunciou pelo alto- falante: “Neste momento, entramos em território brasileiro, a uma altitude de 10 mil metros…” Sabem o que o presidente exclamou?
E de tanto “segurar” o elevador para terminar as piadas, acabou sendo despedido. Mas seu Machado não esmoreceu: procurou novo emprego em edifício bem alto, onde pudesse declamar seu novo repertório: o presidente das piadas sofrera um derrame e a junta militar que o sucedera não tinha a menor graça.
– Teoria referencial strictu sensu. Alston aponta duas dificuldades nessa teoria.
– A semântica de Frege supera essas dificuldades…
A ciência desumanizara o mundo. O progresso tecnológico era frenético e as descobertas científicas, mirabolantes: cálculos, métodos, autômatos, algoritmos, elementos químicos, linguagens formais, partículas subatômicas… O homem alienara-se de si mesmo, tornara-se apêndice da máquina, neurótico, robotizado… A matéria dominara o espírito.Até que adveio a reação filosófica.